
Em pouco mais de duas décadas a China tornou-se a segunda economia mundial, e os números refletem claramente o peso da economia chinesa:
População: 1.3 mil milhões em 2013, país mais populoso do mundo
- Taxa de crescimento do PIB: 7,6% em 2013
- Taxa crescimento média anual do IDE na China entre 1990-2013: 21,5%
- Em 2013, a China recebeu 8.5% do IDE mundial, ao qual devemos acrescer os 5.3% em Hong Kong
- IDE da China fora cresceu significativamente, de 0.3% do total mundial em 1990 para mais de 7% em 2013, ao qual acresce os cerca de 6,5% de Hong-Kong;
- Relativamente às exportações, a importância de China traduz-se no crescimento de 1,8% para 11,75.
Cooperação internacional: novas oportunidades
De facto, diversos países têm vindo a desenvolver e promover ações de cooperação com os “clusters” na China. Os principais parceiros comerciais e investidores na China continuam a ser empresas de países asiáticos, incluindo a Região Administrativa Especial de Hong-Kong, Tailândia e Singapura, sendo que os investimentos dos EUA e também da UE têm registado forte crescimento. Relativamente às economias europeias, alguns países registam bons progressos ao nível da cooperação com os “clusters” chineses. A Dinamarca, Alemanha, Espanha, França, Itália, Finlândia e o Reino Unido apresentam já relações de cooperação. Já outros países, como a Holanda ou a Suécia, Suíça e Noruega, assim como Portugal, estão a dar os primeiros passos.
Em Portugal, a abordagem dos “clusters” ganhou expressão com o estudo de Michael Porter encomendado pelo Governo português no início da década de 90. Vinte anos de história levaram ao reconhecimento (em 2009) de 11 Polos de Competitividade e de 8 “clusters”. Um relatório de avaliação, publicado em 2013, aponta claramente para a importância da definição de estratégias orientadas para a internacionalização. Os “clusters” bem estabelecidos nas redes internacionais têm um papel importante no apoio à internacionalização das empresas. A China apresenta-se, claramente, como um mercado central neste processo. Um conjunto de motivos estimula a cooperação entre “clusters” portugueses e chineses. Esses fatores são multidimensionais, e recaem entre o acesso ao mercado chinês e a outros mercados asiáticos, o acesso a mão de obra barata, para além de outros:
Possibilidades de escala;
Processo de transição para democracia, e oportunidades com a abertura à iniciativa privada de diversos setores;
A entrada na OMC em 2001;
Infraestruturas e investimentos estatais em tangíveis e intangíveis (e.g. parques de ciência e tecnologia; universidades);
Uma sociedade relativamente estável;
Moeda subvalorizada;
Crescimento económico;
Para além da cidades de “1º nível” Beijing e Xangai, as “cidades de 2º nível”, Chongqing, Chengdu, Wuhan, Hangzhou, Tianjin, Xiamen, Dalian, Shenyang, Nanjing, estão a tornar-se no motor de crescimento da China. Nestas regiões encontramos novos trabalhadores e novo talento, grandes investimentos, novas infraestruturas e indústrias, locais favoráveis ao comércio, com grandes mercados industriais e de consumo.
As oportunidades vão muito para além dos setores tradicionais apoiados em mão de obra barata. De ‘a fábrica do mundo’, a China tem vindo a evoluir para ‘líder mundial em alta tecnologia’, refletindo o facto de o Governo chinês atribuir elevada prioridade ao desenvolvimento da ciência e tecnologia para o crescimento económico nacional. Como evidência, refira-se o Programa Nacional para o Desenvolvimento a médio e longo prazo da Ciência e Tecnologia (PNDCT) (2006-2020), considerado muito inovador e competitivo, que assenta em:
Empresas orientadas pela inovação;
Fortalecimento da proteção da propriedade intelectual;
Atração de talento.
A China está, de facto, em transformação. As principais apostas têm sido a urbanização, cuidados de saúde e o desenvolvimento verde, e, nesse processo, surgem necessariamente novas oportunidades. Sem surpresa, regista-se um aumento de I&D em áreas como TIC, biotecnologia, nanociências e nanotecnologias, materiais, energia, entre outras.
Apostas na relação Portugal-China
Em Portugal estão reconhecidos 19 “clusters”, sendo centenas na China.
Apesar das relações ancestrais entre Portugal e China, o grau de interação entre os dois países é, ainda, limitado. Existe, no entanto, grande potencial para o desenvolvimento destas relações, particularmente num contexto do interesse da China em promover as relações com os 8 países PALOP. É de notar que as relações entre a China e os 8 países PALOP têm vindo a crescer, destacando-se, em primeiro lugar, o Brasil, seguindo-se Angola e, em terceiro lugar, Portugal, ao qual se segue Moçambique.
A promoção das relações entre Portugal e a China passa pela identificação dos “clusters” onde existem oportunidades. Neste sentido, foi efetuada uma análise tendo por objetivo a identificação das áreas de maior potencial para colaboração entre os “clusters” de Portugal e China. Os resultados e sugestões aqui apresentadas surgem no seguimento de inquéritos e entrevistas desenvolvidas junto dos “clusters” portugueses e chineses.
Conjugando os interesses dos “clusters” chineses (CC) na cooperação internacional e as atuais relações de cooperação entre a China, os EUA e diversos países da UE, assim os interesses por parte dos “clusters” portugueses (CP), identificam-se na tabela seguinte os setores que expressam maior potencial de desenvolvimento, no que se refere à cooperação entre “clusters” Portugal-China (CPC).
“Engineering & Tooling”
Este setor é composto pelas indústrias mais dinâmicas de Portugal, incluindo empresas líderes a nível mundial. Portugal é, de facto, reconhecido internacionalmente pela produção nesta esfera, nomeadamente moldes e injeção. Grandes multinacionais da indústria automóvel, saúde, eletrónica, eletrodomésticos e de embalamento procuram fornecedores portugueses e os seus serviços para se abastecerem e para desenvolverem novos produtos e conceitos.
As empresas dos “clusters” chineses relacionados com ‘Engineering & Tooling’, largamente suportados em PME débeis em I&D, desejam avidamente parceiros internacionais para o desenvolvimento de novos produtos, novos conceitos/design, para transferência de tecnologia e I&D conjunto. Esta colaboração é vista como forma de aumentar a capacidade e inovação.
Agro-indústria
Recuando alguns anos, a presença internacional da indústria agroalimentar portuguesa reduzia-se aos produtos tradicionais, como o vinho e conservas. Nos últimos anos, a indústria tem vindo a crescer e modernizar-se, registando-se um aumento nas exportações de transformados de tomate, azeite, cerveja, entre outros.
A procura por parte dos “clusters” chineses nesta esfera não é só por produtos finais, como vinho e azeite, mas também por novos produtos, novas espécies e novas tecnologias da indústria alimentar. Portugal e a China caracterizam-se pela produção de diferentes produtos e diferentes métodos de transformação, o que potencia a partilha de conhecimentos e mercados.
Mobilidade
O automóvel é um setor chave na economia portuguesa. Para além da produção de veículos, em 2008, o Governo lançou um programa integrado para a mobilidade elétrica, uma iniciativa pioneira em termos mundiais. Dada a expansão do mercado chinês, o conhecimento existente em Portugal e a tendência para os veículos elétricos, o potencial de cooperação é elevado.
Os “clusters” chineses da área da mobilidade desenvolvem já cooperação a nível mundial. No entanto, parece existir, ainda, espaço para novas relações ao nível de tecnologias, incluindo a eletrónica.
A China apresenta-se com uma oportunidade para a internacionalização dos “clusters” portugueses, e, por arrastamento, das suas empresas. No entanto, este mercado não pode ser encarado como uma panaceia de curto prazo. As oportunidades poderão ser aproveitadas, se enquadradas em estratégias ambiciosas, pautadas pela seletividade, consistência e persistência, por parte dos agentes privados e públicos, enquadradas num modelo de governança mais eficiente.